Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva*
Deus colocou o homem no mundo para “o cultivar e guardar” (Gn 1,15), fazendo com que o trabalho se tornasse uma sua vocação natural. O trabalho, possui, portanto, uma evidente dimensão objetiva. Por ele, o homem transforma a realidade e pode otimizar o mundo em que vive.
Sobre esta dimensão, muito se escreveu, quer nas abordagens mais clássicas, quer nas mais materialistas.
Na elaboração filosófica de Karl Marx (1818-1883), por exemplo, o tema do trabalho foi abordado de maneira exclusivamente materialista. Em termos mais simples, poderíamos dizer que, para ele, o que especifica o homem é capacidade de trabalhar, e que este trabalho consiste unicamente em fazer algo no mundo material, exterior.
Num de seus mais relevantes ensaios, A ideologia alemã, Marx afirma que os homens “começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência”. Em outras palavras, Marx reduz o homem ao trabalho, e reduz o trabalho à produção das coisas materiais que lhe permitem continuar vivo. O erro desta abordagem, porém, é flagrante!
De fato, quando trabalha, o homem cultiva o mundo enquanto se cultiva a si mesmo, enquanto procura ser feliz, tentando torna-se bom em todas as suas obras. O homem exterior de Marx nada mais é que a descrição mutilada do homem, privada de um elemento que lhe é essencial: a interioridade. Aliás, sem esta, Marx sequer poderia descrever o seu homem exterior.
É esta dimensão subjetiva que a doutrina católica considera mais importante no trabalho, pois este, em sentido subjetivo, “é o agir do homem enquanto ser dinâmico, capaz de levar a cabo várias ações que pertencem ao processo do trabalho e que correspondem à sua vocação pessoal” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, n. 270).
Dizendo-o doutro modo, é o trabalho enquanto ambiente de auto-aperfeiçoamento, como espaço de crescimento interior, de realização pessoal.
Obviamente, uma sociedade que se entende segundo a abordagem marxista viverá focada no trabalho enquanto meio para se conseguir recursos materiais, se tornará uma sociedade em que a economia dita as regras.
De outro lado, uma sociedade que se entende em termos clássicos, tais como estes da doutrina social da Igreja, entenderá que o mais importante é crescer em virtude, em humanidade, em santidade, e transformará o trabalho em pauta na qual esta temática pode ser desenvolvida.
Penso que você, caro leitor, não precisa fazer muito esforço para entender em qual destas sociedades nós estamos vivendo…